Review | Call Me by Your Name (2017)


Acho que assim de repente poderia já dizer que no final deste ano este filme vai por certo constar no meu top 3 de 2018.


Há quem defenda que o ser gay é, atualmente, uma moda. Há quem defenda que filmes que toquem na homossexualidade passam uma má mensagem. Há quem diga que dá o mau exemplo às gerações vindouras. Há quem defenda, também, que isto que acabei de referir é só ridículo e que, muito pelo contrário, se deve focar a homossexualidade tanto como a heterossexualidade porque são ambos merecedores de uma atenção igualitária. Afinal, amor é amor. Pois bem, esta vossa autora defende, obviamente, o direito à liberdade de escolha e, pessoalmente, é-me absolutamente indiferente de quem é que o meu vizinho gosta desde que seja feliz. Tendo em conta a homofobia ainda existente e o facto da sua base argumentativa ter a validade igual ao discurso de um bebé de 9 meses, torna-se imperativo tomar uma posição assertiva acerca do assunto. Deste modo, se existe um filme baseado no romance entre dois jovens homossexuais, eu vou estar na fila da frente para o ver e mesmo que seja mau, vou defender a sua utilidade e contributo para uma sociedade que ainda tem muito que evoluir.

Mas alegremo-nos porque é bom, bom, bom!

Call Me By Your Name é baseado no livro homónimo de André Aciman. Nesta história conhecemos Oliver (Armie Hammer) e Elio (Timothée Chalamet). Todos os anos durante o Verão a família Perlman (Michael Stuhlbarg) abriga um estudante e no ano de 1983 as coisas não acontecem de forma diferente. É assim que os dois jovens se conhecem e acabam por desenvolver a sua estranha amizade. No decorrer do tempo, Elio admite a sua paixão a Oliver que, felizmente!, é correspondida, dando origem ao romance entre ambos. 

As personagens são bastante diferentes entre si, mostrando-se reservadas ao início, mas é Elio quem toma o primeiro passo num ato de grande coragem pessoal. Se por um lado há uma mensagem importante que passa por assumir as nossas escolhas, é também importante estar preparado para lidar com as suas consequências e, talvez, a rejeição do outro. É muito engraçado assistir à dança entre ambos, num vai-não-vai desesperante que os coloca num estado de desespero e loucura e à audiência um tom de expectativa sufocante. Há também espaço à dúvida ao mesmo tempo que Elio passa pela fase de negação e experimentação num pequeno romance com Marzia (Esther Garrel). 

Mas a atmosfera que nos é passada é de uma certa descontração, provavelmente devido ao facto dos bonitos cenários pertencerem ao Norte de Itália (Crema) e haver uma ligeireza inerente à cultura Italiana. O realizador dá, assim, grande destaque ao ambiente envolvente da história o que, obviamente, contribui para o encanto geral do filme. De qualquer das formas, temos que admitir uma coisa: temos uma boa fotografia, uma boa realização e uma boa história mas se o elenco não tivesse sido bem escolhido, esta obra não teria tanto sucesso. Isto porque é mais do que seguro afirmar que a química entre Armie e Timothée, dois homens heterossexuais (o primeiro é, inclusivé, casado e tem filhos), é do mais honesto que se podia pedir. É claro que ajuda o facto de ambos terem desenvolvido uma grande amizade fora do ecrã mais que visível nas entrevistas que ambos dão em conjunto. Sim porque caso estejam a questionar se se vê alguma coisa, na verdade a pergunta devia ser feita ao contrário: o que é que não se vê? De qualquer das formas, as cenas estão todas muito bem feitas e não caiem no barato ou no vulgar o que decerto arruinaria o produto final.

Mas apesar de as personagens principais serem o foco de toda a nossa atenção, é relevante falar dos pais de Elio que através do silêncio nos dão a entender que estão bastante conscientes da homossexualidade do filho. Esta aceitação apenas se torna vocal numa das cenas finais entre o jovem e o pai, numa das cenas mais pertinentes de toda a obra.

De uma forma geral podemos analisar esta narrativa de duas formas diferentes, ou analisando enquanto produto cinematográfico ou enquanto mensagem social. Felizmente obtém-se o melhor dos dois mundos e acho extremamente relevante haver um filme que marcará tanto como Brokeback Mountain marcou em 2005. O cinema é também isto: o de passar mensagens relevantes para que aquilo que é considerado "anormal" ou "diferente" seja encarado de outra perspetiva.

A aceitação tem sido gigante e foi até considerado um dos 10 melhores filmes do ano pela National Boadd of Review e American Film Institute. Não nos esquecendo, claro, das nomeações dos Golden Globes e dos Screen Actores Guild, cerimónia a acontecer daqui a 2 dias. Mais do que isto não posso acrescentar a não ser façam um favor a vocês mesmo e corram para a sala de cinema mais perto.


Nota final: 5/5

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